O psicólogo especializado no Tratamento e Prevenção ao Uso Abusivo de Álcool e Drogas, Rodrigo Garcez, acredita que diante de um número cada vez maior de drogas ilegais que surgem no mercado, como crack, cocaína e maconha, o uso do álcool acaba sendo encarado pelas pessoas como algo menos perigoso. "A bebida é uma droga socialmente aceita e a cultura da "cervejinha" no fim de semana faz parte da sociedade brasileira. Muitas famílias ainda consideram essa droga menos nociva e, por esse motivo, na maioria das vezes a iniciação ao álcool ocorre no ambiente familiar", alerta o especialista.
Outro fator que colabora com o consumo de bebidas alcoólicas pelos adolescentes é a vontade de ser aceito em seu grupo de amigos e ter uma boa imagem com os colegas. O uso do álcool, em muitos casos, representa uma espécie de ritual de passagem da infância para a vida adulta ou mesmo um ritual de pertencimento a um grupo." O uso do álcool, em muitos casos, representa uma espécie de ritual de passagem da infância para a vida adulta ou mesmo um ritual de pertencimento a um grupo." "Quando uma família permite que nos encontros familiares o menino ou a menina tome alguma bebida alcoólica, esse jovem entende que os pais não o veem como criança e que agora ele faz parte do mundo adulto ou daquela roda de amigos", explica Rodrigo Garcez.
Mitos e Verdades
Para saber se um jovem possui mais propensão a fazer uso dessas substâncias ilícitas, é importante ficar atento ao fator hereditário, que pode aumentar as chances do adolescente desenvolver alcoolismo. "Também é interessante observar se menino ou menina apresenta um quadro de compulsividade e impulsividade em relação ao uso do álcool. Geralmente a predisposição genética, associada a um quadro compulsivo, é um fator de alerta, mesmo naquele jovem que bebe há pouco tempo", lembra o psicólogo.Antigamente era mais comum que os consumidores do gênero masculino ingerissem maior quantidade de álcool do que o público feminino. No entanto, o especialista acredita que atualmente essa teoria está ultrapassada. "Observo, no meu consultório e conversando com outros colegas de profissão, o aumento do alcoolismo entre mulheres na faixa dos 30 e 40 anos. Se antes uma mulher que bebia era socialmente mal vista, nos dias atuais isso deixou de ser uma crença social", compara Garcez.
Prevenção
Para o especialista, a melhor forma de prevenir os altos índices de consumo do álcool e de outras drogas é por meio do diálogo nas escolas e no ambiente familiar. "Os adolescentes têm muitas dúvidas e curiosidades que podem levá-los de maneira quase ingênua à experimentação dessas substâncias. Muitas vezes eles sequer conhecem os prejuízos reais que isso pode ter na sua vida, seja no nível físico, emocional, mental ou social", enumera Rodrigo.Sendo assim, palestras e rodas de conversa com parentes e profissionais especializados, além da exibição de trechos de filmes e documentários sobre o assunto podem ser um caminho utilizado pelas escolas e famílias. A ideia é que a informação chegue aos jovens de uma maneira reflexiva, crítica e consciente e colabore com o desenvolvimento sadio dos adolescentes.
Vale lembrar que é expressamente proibida a venda de álcool para menores de 18 anos.
Futuro
Especialistas de diversas áreas, como médicos, psicólogos e assistentes sociais acreditam que há chances de elevação do quadro de alcoolismo na sociedade brasileira num prazo de 20 a 30 anos. Ao contrário do usuário de cocaína ou crack, que faz o usuário sentir rapidamente sente os efeitos prejudiciais dessas substâncias, o alcoólatra pode demorar anos até buscar tratamento. Isso acontece porque os efeitos do consumo de bebida alcoólica só são sentidos a médio e longo prazo. "Um jovem de 25 anos que faz uso abusivo do álcool pode desenvolver um quadro de alcoolismo com síndrome de abstinência. Se ele não beber, é possível que tenha alucinações, crises convulsivas e quadro de confusão mental. Mas pode levar de 10 a 20 anos para que ele perceba todos esses efeitos", avalia o psicólogo.O uso abusivo do álcool favorece o aparecimento de problemas físicos e mentais, como depressão; transtorno bipolar; prejuízos no fígado, rim e vesícula; incapacidade de manter o foco e a atenção, entre outros. Em estágio avançado, o alcoolismo também pode gerar dificuldades na vida social, no trabalho e na família. "Quando chega a esse nível, significa que o alcoolismo já está instalado e sedimentado na estrutura biopsicosocial da pessoa, tornando o tratamento e seus resultados menos promissores. Por isso é importante que o usuário busque ajuda de profissionais qualificados para reverter esse quadro", esclarece Rodrigo.
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