quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O PRIMEIRO SUPER-HERÓI BRASILEIRO

Enfim, um herói do lado certo

Recordista de público, Tropa de Elite 2 consagra o tenente-coronel Nascimento, vivido por Wagner Moura, como exemplo do policial honrado com que todos os brasileiros gostariam de contar

Já tendo atraído quase 8,5 mi­lhõesdepessoas aos
cinemas, Tropa de Elite 2 entra em sua quinta semana de exibição co­mo o filme mais visto do ano e o segundo filme brasileiro de maior público na história. Tem todas as chances de ultrapassar os 10 milhões do ainda campeão Dona Flor e Seus Dois Maridos, de 1976. Para além desses nú­meros ÍJ!lpressionantes, Tropa de Elite - o primeiro filme, de 2007 - e sua sequência são fenômenos de repercus­são. O tenente-coronel (no primeiro fil­me, capitão) Roberto Nascimento, vivi­do com intensidade assustadora por Wagner Moura, tornou-se um persona­gem da cultura brasileira.

Os dois filmes protagonizados por ele merecem ser vis­tos duas vezes: uma vez para observar o que se passa na tela e outra para ver a reação do público, que costuma ovacio­nar Nascimento quando ele tortura ban­didos (no primeiro Tropa) e quando espanca barbaramente um político corrup­to (em Tropa 2). Por terem suscitado essa reação barulhenta, os filmes de José Padilha já receberam a velha pecha com que os patrulheiros tentam coibir tudo o que não se enquadre nas suas ideias de acepção ideológica: "fascista". A torci­da por um personagem de ficção, porém, não significa necessariamente endosso a todos os seus atos. A aclamação a Nas­cimento vem, em grande parte, de um legítimo anseio comum aos brasileiros de bem, de qualquer região ou classe so­cial: todos querem circular pelas ruas de sua cidade sem medo do assédio da ban­didagem, e desejam que essa segurança seja garantida por uma policia impeca­velmente honesta, gerida por homens públicos probos. Nascimento é irredutí­vel em seu repúdio à corrupção, seja ela praticada pelo soldado da PM ou pelo secretário de Segurança do estado. E es­sa pureza brutal fez dele um verdadeiro herói nacional.


O código de ética de Nascimento é - para usar a expressão de José Padi­lha - "torto": não condescende com a desonestidade. mas admite a tortura.

"Como o estado falha na segurança, nós, que somos vítimas, temos a ten­dência de buscar soluções personalizadas, individuais. Nascimento dá vazão a essa ânsia por soluções imediatas. Ele é um justiceiro do século XXI brasileiro", define o historiador Marco Antonio Villa, da Universidade Federal de São Carlos. Engana-se quem imagina que essa demanda por soluções efetivas na segurança e, sobretudo, por honesLida­de por parte dos agentes do poder públi­co seja veleidade de uma classe média amedrontada. Ex-policial da "tropa de elite" aludida no título dos filmes - o Batalhão de Operações Especiais (Bo­pe) do Rio de Janeiro -, Rodrigo Pi­mentel, colaborador essencial de Padi­lha na elaboração de seus enredos, já assistiu à Tropa de Elite 2 uma dezena de vezes, nos mais variados pontos do Rio de' Janeiro, de shopping centers da Zona Sul a favelas dominadas por milí­cias (tema central de Tropa 2). A cena em que o tenente-coronel encarnado por Wagner Moura mói de pancadas um político ficha-suja foi aplaudida vigoro­samente em todos os lugares .

A corrupção da polícia, em particu­lar, faz-se sentir mais dolorosamente pela população das favelas. Em 2006, uma pesquisa feita pelo Núcleo de Pesquisa das Violências da Universidade Esta­dual do Rio de Janeiro com 3500 habi­tames de bairros distintos da capital mostrou que 60% não confiam na polí­cia, quc consideram corrupta e violenta. A pesquisa ainda revelou que 4,4% des­se universo foi vftima de violência físi­ca, 7, I % de violência verbal e 10% de extorsão por policiais militares. "Esses números podem ser ainda maiores. Em areas violentas e pobres, as pessoas têm medo de acusar a polícia", diz Alba Za­luar, coordenadora da pesquisa. Em 2007, Alba realizou OUtro estudo simi­lar, com foco social mais estreito: foram entrevistados 660 moradores de favelas cariocas. O dado é chocante: 52% dos entrevistados disseram já ter visto al­guémpagando propina a um policial.


"Nenhuma polícia pode ser eficiente se tiver corrupção em seus quadros", diz José Vicente da Silva Filho, ex-co­ronel da Polícia Militar de São Paulo e um dos maiores especialistas brasilei­ros em segurança. As experiências de cidades americanas como Los Angeles revelam uma relação direta entre a mo­ralização da polícia e a queda nos índi­ces de criminalidade. Historicamente marcado por casos de corrupção (que, aliás, forneceram argumento para uma penca de bons filmes, como ChinalOwn e Los Angeles - Cidade Proibida), o Departamento de Polícia de Los Ange­les passou por uma longa intervenção federal entre 2000 e 2009. Dois episódios foram decisivos para determinar essa medida drástica: o espancamento do taxista negro Rodney King por poli­ciais brancos, em 1991, foi o estopim de motins raciais que abalaram a cida­de. Em 1999, um grupo de policiais foi preso por assassinato e envolvimento com o tráfico de cocaína (caso que ins­pirou Dia de Treinamento, estrelaoo por Denzel Washington). O Departamento de Justiça dos Estados Unidos, então, passou a dirigir a polícia diretamente, fixando metas a ser cumpridas. E esta contratou William Bratton, gestor de forças de segurança que ajudara o pre­feito Rudolph Giuliani a converter No­va York na metrópole mais segura do país. Bratton implantou medidas cuja eficácia já fora testada em Nova York: investiu na cooperação com outras polí­cias e agências de segurança, como o FBI, deu início a uma gestão baseada na cobrança de resultados e, sobretudo, prendeu bandidos em escala industrial (750000 presos em sete anos).-A redu­ção da criminalidade é a segunda mais acentuada entre as dez principais cida­des americanas a vencer o crime (per­de apenas para a de Nova York). Tudo isso foi realizado, é bom frisar, sem nenhuma tolerância com a brutalidade policial encarnada por Nascimento. "Não se pode quebrar a lei para impor a lei", disse Bratton, hoje aposentado da polícia, a VEJA.


O que falta à polícia brasileira são reformas verticais, para expurgar os ele­mentos corruptos e profissionalizar os honestos. As milícias, tema central de Tropa de Elile 2, são uma mostra perver­sa das deturpações a que chega a polícia quando se é Ieniente com a corrupção e a violência. No filme, a milícia instala-se em favelas que o Bope do tenente-coro­nel Nascimento liberou do rráfico, mas na aí cerra simplificaçao ficcionaJ. "Há vários modelos. Em alguns lugares, a milícia tomou o lugar do tráfico, como se vê no filme. Em outros, ela faz acordos com os rraficantes", esclarece o anrropó­logo e especialista em segw-ança pública Luiz Eduardo Soares, coautor, ao lado de Cláudio Ferraz, André Batista e Rodrigo Pimentel, de Elite da Tropa 2. Enrre os maiores interessados na moralização da polícia estão os próprios policiais. É uma questão básica de autoestima. Uma pes­quisa encomendada por VEJA ao institu­to Sensus e divulgada pela revista em dezembro de 2009 constatou que os po­liciais cariocas são os que mais perce­bem corrupção em seus quadros: 46% dos policiais militares veem muita cor­rupção na Polícia Civil, e 52% dos civis dizem o mesmo da PM. Os dados nacio­nais das polícia~ Civil e Militar são alar­mantes: o porcentual dos que admirem a existência da corrupção se aproxima dos 90% em cinco capitais.


A ironia trágica é que os policiais, na linha de frente das conflagrações urba­nas do Brasil, são vítimas preferenciais da violência. Em São Paulo, à medida que decresce a raxa de homicídios (a di­vulgada na semana rerrasada, de 10,17 morres intencionais para cada 100000 habitantes, é a mais baixa em décadas), menos policiais também tombam em serviço. Passaram de 38 em 2006 para 22 em 2009. No Rio, onde as estaústicas acompanham a precariedade da segu­rança pública, pelo menos 89 policiais militares foram assassinados em serviço desde 2007. Em comparação, em Nova York, nos últimos cinco anos, apenas três foram mortos. Em Los Angeles, tal­vez a merrópole mais conflagrada dos Estados Unidos, um policial tombou em a'tãu em 2006 e dois em 2008.


O aspecto simbólico desse descom­passo está bem representado pela pom­pa dos serviços fúnebres dados aos po­liciais americanos - com autoridades a postos, corporação em rraje de gala, pa­rada nas ruas. E indenização, para a fa­rrulia, que pode chegar a 200000 dóla­res. No Brasil, como se vê nos testemu­nhos destas páginas, as viúvas de poli­ciais assassinados rêm em geral de bri­gar para receber pensões parcas'. Os dois Tropa de Elile apresentam um po­licial complicado, miserável em sua vi­da pessoal, que pratica indizíveis atos de violência. Mas, apesar disso - e da desilusão com que ele chega ao fim do segundo filme -, é um homem que se orgulha de sua farda. Esse é um aspecto fundamental para a auto estima da polí­cia - e também para a saúde da demo­cracia brasileira: afinal, uma sociedade que não se reconhece minimamente em sua polícia evidencia um descrédito pe­rigoso nas próprias instituições.


Entre os milhares de homens da lei já rerratados pelos filmes e séries americanos. alguns, como Nascimento, se tomaram icônicos. Por exemplo, o poli­ciaI que arrisca a vida pela honestidade em Serpico, de 1973, ou o Dirty Harry que Clint Eastwood começou a inter­pretar em 1971, irredutível na defesa dos direitos das vítimas e muito flexível no que toca aos direitos dos criminosos. Essas figuras chegaram à condição de ícones porque ecoam um anseio exis­tente na realidade. E a realidade brasi­leira é complexa: as pessoas aplaudem Nascimento; e algumas delas, então, procuram cópias piratas de Tropa de Elile no camelô, pagam "uma cerveji­nha" ao guarda para que cancele uma multa', pedem ao fiscal que vistoria sua reforma que "dê um jeitinho" (e como é ofensivo o uso desse diminutivo preten­samente inocente). Para que Nascimen­to - ou melhor, uma versão civilizada dele - deixe de ser exceção e se tome regra, cada cidadão tem de deixar de ahrir exceções para si e seguir também ele as regras. Da mesma maneira que o primeiro Tropa de Elile demonstrava que um cigarro de maconha aceso numa festa de classe média põe um fuzil nas mãos de um menino do morro, cada "cervejinha" toma mais distante o so­nho de uma polícia civilizada. Esse é, talvez, o único aspecto em que Tropa de EliTe 2 desaponta: na invocação de uma ideia de "sistema", cuja engrenagem perversa seria tão carregada pela inércia da corrupção e da ineficiência que gira­ria sozinha, a despeito de tudo e todos. Mas não há "sistema": o que há é a so­ma das ações dos indivíduos.



José Padilha resiste a considerar o personagem de seus filmes um herói. "Ele tortura inocentes e mata pessoas que deveria prender. Não tem as virtu­des morais que o senso comum exige de um herói", diz. Mas um herói - em particular, um herói de ficção - não precisa se apresentar como um ser hu­mano exemplar, de moral irretocável. Ao considerar os heróis da tragédia clás­sica grega em sua Poética, o filósofo Aristóteles dizia que os homens com­pletamente virtuosos ou totalmente maus não servem para esse papel: a si­tuação trágica por excelência, dizia ele, é a do homem de grande reputação, mo­deradamente virtuoso, que cai no infor­túnio não por ser vil, mas "por força de algum erro". Resguardadas as diferen­ças entre um blockbuster brasileiro e o teatro grego, é cabível afirmar que o per­sonagem vivido por Wagner Moura é uma figura dessa estirpe, vítima da arro­gante ideia de que sua simples promo­ção a subsecretário de Segurança do Rio seria o bastante para limpar a criminali­dade e a corrupção policial da cidade. O tenente-coronel Nascimento, em suma, é um herói da tragédia brasileira. _


COM REPORTAGEM DE RONALDO SOARES E SÉRGIO MARTINS



"AGORA NÓS SOMOS pop STARS"

Criado em 1978, o Bope (no início, Companhia de Operações Es­peciais, ou COE) tinha como única função resgatar reféns e conta­va com quarenta homens para essa atividade. Atualmente, são 400, e a meta é dobrar o número do efetivo até 2016, quando será realizada a Olimpíada no Rio de Janeiro. No comando do Batalhão há mais de um ano, o tenente-coronel Paulo Henrique Moraes, de 45 anos, lidera uma tropa reconhecidamente impiedosa nas ações extraordinárias feitas em centenas de favelas do Rio de Janeiro. Antes de viajar para Is­rael, onde negociará cooperação para aulas teóricas e práticas de contraterro­rismo no Brasil, ele falou sobre as normas do Bope e sobre como Tropa de Elite transformou seus integrantes em figuras célebres.

Qual o significado de o capitão - e agora tenente-coronel - Nascimento, de Tropa de Elite, ser considerado um herói nacional? Significa o ideal de justiça do povo. Ele quer pessoas que trabalhem obstinadamente. O Nasci­mento é paradoxal e exagera em seus comportamentos, mas é, acima de tudo, um idealista. E isso atrai a simpatia da população. Ele deixa a vi­da pessoal e os problemas familiares de lado, se dedica e se expõe a riscos para enfrentar um sistema corrompido.


Como os cariocas veem o Bope hoje?


O Bope virou pop star no Rio. A gente tem um apoio muito grande da popu­lação. Viramos comentário até na bo­ca de criança. Para você ter ideia, para o Dia das Crianças lançaram aqui no Rio um caveirão de brinquedo - um carrinho que imita nosso veiculo blin­dado - e esgotou.


O caveirão é alvo constante de críticas.

Por quê? As pessoas não entendem. ham que é um tanque de guerra que vai atirar para todos os lados. Não é. Ele não tem arma. É só uma blindagem­ para proteger o policial quando ele entra em certas comunidades. Serve ­para levar a tropa até um ponto de­terminado, no qual os policiais saltam em a pé. É imprescindível. Se chegar ­num carro comum, o policial ficará
totalmente desprotegido, e qualquer disparo poderá ser letal. Veja, estou falando de lugares onde somos recebi­dos com arma de guerra.

Como é o preparo de um policial do Bope?

É bem superior ao de outros policiais.O policial do Bope tem uma carga diária de mais de três horas só preparo físico. E ainda faz treina­ntos específicos, de três dias - ações na montanha ou com helicópte­. por exemplo -, uma vez por mês.

o policial do B0pe é mesmo mais ho­nesto que os outros?

É. Se o cara pensa em fazer algo errado, vai evi­tar vir para cá. A credibilidade do Bope tem tudo a ver com a lisura de suas ações. A partir do momento em que tivermos casos de corrupção, cairemos em descrédito. Além do trabalho preventivo, qualquer condu­ta errônea tem de ser imediatamente banida. Uma simples suspeita já é suficiente. Se o cara olhou diferente, eu mando afastar. Aqui eu não posso desconfiar. A própria tropa cria uma pressão sobre seus componentes pa­ra andar na batida certa. É muito forte a exigência de não ser corrup­to. A gente aqui aperta. Até pela vantagem financeira que temos em comparação com outros policiais (o salário líquido de um policial do Bo­pe é de 2800 reais), exijo o máximo. É como seleção brasileira. Se não está jogando bem, eu desconvoco.


"O Bope é o topo"



Pela quarta vez consecutiva, o cabo Raul José Fonseca de Araújo, 313 anos, tenta ser admitido pelo Bope. É um sacrifício. Raul já foi reprovado uma vez por exces­so de peso e outras duas porque se ma­chucou durante os exercícios. Com nove anos de serviços prestados à polícia, ele explica sua determinação: "Quero estar numa unidade em que a corrupção não é tolerada". Casado, filho de um militar e com cinco primos policiais mais velhos que ele, Raul diz que o ofício "está no sangue". A ideia de ser treinado nos limi­tes da resistência física e psicológica é algo que o enche de ãnimo. "Estar no Bope é estar no topo", ele resume



"Quero ser um bom exemplo"


Depois de sete anos no Exército e cinco na Polícia Militar, o soldado André Silva, 32 anos, acaba de iniciar o curso de preparação para ingressar no Batalhão de Operações Especiais (Bope), seu maior sonho. A aprovação depende­rá de seu desempenho nas próximas seis semanas. Filho de uma costureira e de um pintor de carros', pertencer à tropa de elite da polícia é, para André, um claro sinal de ascensão. Diz ele: "Com seleção tão rigorosa, o Bope não admite policiais que já se envolveram em atos de corrup­ção. Isso me motiva a fazer parte do grupo". Outra razão para aspirar ao Bope é o tipo de tarefa que passará a de­sempenhar. "Quero entrar, ao lado dos mais preparados, no combate ao tráfico", afirma. Casado e pai de uma filha de 2 anos, André garante, com o idealismo dos novatos:

"Vou ser um bom exemplo".


A pensão que nunca vem


Viúva do cabo Luiz Henrique de Souza Duarte, que morreu aos 38 anos, ao ter o carro metralhado por bandidos quando deixava seu batalhão, no Rio de Janeiro, a manicure carioca Alexandra Jesus de Souza, 33 anos, até hoje luta para receber aquilo que lhe é de direi­to, por lei: uma indenização de 20000 reais e uma pensão de 1600 reais mensais. O crime ocorreu em agosto de 2009. A situação se arrasta por causa de um imbróglio burocrático. Alexandra, que viveu com o PM durante dezessete anos e com quem teve uma filha, hoje com 7-, precisa provar que mantinha com ele uma união civil estável.


"Já entreguei à polícia um monte de papéis comprovando nossa união, mas eles estão claramente enrolando para adiar o pagamento da dívida", queixa-se ela, que vem contando com a ajuda financeira de parentes e amigos enquanto aguarda uma decisão da Justiça so­bre o caso. "Depois do enterro, a PM virou as costas para minha famí­lia", diz, indignada. "Fico me perguntando por que meu marido deu tanto suor, e até morreu, sendo fiel a uma corporação como essa."


Nem sequer um telefonema


Em 1999, a dona de casa carioca Rosemery de Santana Manoel, 52 anos, presenciou a morte do marido, o sargento Edson José Manoel, então com 43 anos, no exato momento em que ele chegava do trabalho à casa onde mora­vam, na Baixada Fluminense. Minutos antes, o sargento havia expulsado um bando de criminosos do local em que traficavam drogas, bem próximo dali. Dois deles o executaram com cinco tiros nas costas. Edson m'orreu no ato. Trau­matizada, Rosemery passou a sofrer crises de pânico e ficou cinco anos sem conseguir sair de casa sozinha. Seus dois filhos, à época com 6 e 16 anos, também se desestruturaram com a perda do pai. A polícia pagou o enterro e uma indenização de 20000 reais, como prevê a lei. "O tratamento psicológico das crianças ficou por minha conta", exalta-se a viúva. Até hoje, uma ação se arrasta na Justiça para que Rosemery receba a pensão a que tem direito, no valor de 1200 reais - ela está ganhando 1000 reais. "É triste ter de lutar para receber o que me devem. Meu marido dedicou dezenove anos da vida dele à polícia. Mas, depois que foi assassinado, ninguém deu sequer um telefonema para saber como estávamos"