Prontos Para a Copa... De 2038.
Mantidos os atuais padrões de gestão, organização e investimento, o Brasil tem todas as condições de fazer uma belíssima Copa do Mundo, mas só em 2038. Desde o dia 30 de outubro de 2007, quando o presidente da Fifa, Joseph Blatter, anunciou que o país havia sido escolhido para sediar a Copa de 2014, muito pouco se fez para preparar a casa.
A 36 meses do pontapé inicial do torneio, a controladoria-Geral da União informa que, dos 23,7 bilhões de reais previstos para ser aplicados em obras de infraestrutura, apenas 590 milhões de reais foram efetivamente investidos. Ou seja, só 2.5% das obras saíram do papel. Os responsáveis pelos projetos insistem em afirmar que os trabalhos avançam em ritmo adequado. Mas uma análise escrupulosa da situação conduz a outra conclusão. O Brasil está atrasado, sim - e mais atrasado do que estava a África do Sul em 2007, três anos antes de sediar o evento. Mais: entre as construções em andamento, há obras com indícios de superfaturamento, estádios superdimensionados e projetos tão mal-feitos que mais parecem piada de mau gosto - como o estádio em que os responsáveis se esqueceram de prever a instalação de gramado e cadeiras.MARACANÃ: NESSE RÍTMO FICARÁ PRONTO EM 2038
Maracanã vai ter nova cobertura para a Copa do Mundo de 2014 (Foto: Genilson Araújo)
A maioria dos estádios já está com as obras de fundação dos anéis das arquibancada ou rampas de acesso iniciadas. Por outro lado, São Paulo ainda não começou a construção da Arena Itaquera, de propriedade do Corinthians, e já foi descartada da Copa das Confederações em 2013. Além da capital paulista, a cidade de Natal também está atrasada. O Machadão e o Machadinho, estádio e ginásio, respectivamente, ainda não foram demolidos para que seja erguido no local o Estádio das Dunas.
Para a Copa das Confederações, a Fifa vai anunciar as cinco sedes no dia 29 de julho após reunião com o comitê organizador do Mundial (COL). Porém, as cidades já foram escolhidas. Rio de Janeiro, Brasília, Salvador, Belo Horizonte e Porto Alegre receberão o torneio.
Confira abaixo a situação dos 12 estádios que vão receber a Copa do Mundo:
MINEIRÃO NESSE PASSO FICARÁ PRONTO EM 2020
Mineirão: anel inferior já foi completamente
destruído para as reformas (Foto: Divulgação)
Belo Horizonte - Mineirão
A obra teve início em janeiro de 2010, com o reforço estrutural e a correção de alguns danos no estádio. Essa primeira etapa foi concluída em junho, mês que o estádio foi interditado para reformas mais complexas. A segunda fase foi concluída em dezembro do ano passado e constituiu a demolição do anel inferior e o rebaixamento do gramado. A partir de agora, os operários estão trabalhando na colocação de estacas e blocos de fundações para as novas arquibancadas. As demolições externas prosseguem. Valor do projeto: R$ 743,4 milhões.
Brasília - Estádio Nacional: NESSE RÍTMO FICARÁ PRONTO EM: 2021
Está no processo de demolição da última parte das arquibancadas. Após a tentativa de implosão, que acabou não sendo concretizada por conta de um problema na interrupção da linha de acionamento em duas oportunidades, o restante da demolição será feita de forma mecânica. As obras de fundações já estão concluídas. Valor do projeto: R$ 671 milhões.
Cuiabá - Arena Pantanal: NESSE RÍTMO FICARÁ PRONTO EM: 2017
A arena será erguida no terreno do José Fragelli. A demolição do antigo estádio começou em abril de 2010 e foi concluída em julho. A partir de agora, as construtoras vão iniciar as obras de fundação da arena. Valor do projeto: R$ 342 milhões.
Curitiba - Arena da Baixada RÍTMO ATUAL: NÃO FICARÁ PRONTO PARA A COPA
O Atlético-PR assinou em setembro do ano passado o termo de cooperação financeira com a prefeitura de Curitiba e o governo do estado para obter títulos de potencial construtivo do terreno da arena. O clube pretende iniciar a construção no segundo semestre, mas ainda não acertou com nenhuma construtora. O projeto executivo já foi finalizado. Valor do projeto: R$ 220 milhões.
Fortaleza - Castelão: NO RITMO ATUAL FICARÁ PRONTO EM 2013

Castelão: cobertura já está sendo demolida para obras de reforma (Foto: Canindé Soares)
Manaus - Arena Amazônia NO RÍTMO ATUAL FICARÁ PRONTO EM 2024
A demolição do estádio foi concluída em outubro de 2010. É um dos estádios com processo de construção mais avançado, de acordo com as avaliações do comitê organizador da Copa do Mundo (COL). As obras de fundações já estão concluídas e a construtora pretende iniciar a construção das estruturas de concreto da arquibancada inferior. Valor do projeto: R$ 499,5 milhões.
Natal - Estádio das Dunas: NO RITMO ATUAL NÃO FICARÁ PRONTO PARA A COPA
Uma das sedes mais atrasadas para a Copa do Mundo de 2014. O Machadão e o Machadão serão demolidos para a construção do novo estádio. A licitação para a construção do estádio foi vencida pela construtora OAS e o projeto executivo está em fase final de elaboração. Valor do projeto: R$ 400 milhões.
Porto Alegre - Beira-Rio NO RITMO ATUAL FICARÁ PRONTO EM 2017
O Internacional, dono do estádio, já concluiu a instalação das estacas que vão sustentar a estrutura metálica da cobertura. Além disso, após a destruição da antiga geral, o clube iniciou a reconstrução das arquibancadas. Valor do projeto: R$ 270 milhões.
Arena Pernambuco: obras de fundações já foram iniciadas (Foto: Eduardo Martino)
Recife - Arena Pernambuco NESSE RITMO FICARÁ PRONTO EM 2015
Em março, a construtora iniciou as obras de terraplanagem e a colocação das fundações da nova arena, que será em São Lourenço da Mata. Valor do projeto: R$ 532 milhões.
Salvador - Arena Fonte Nova NESSERÍTMO FICARÁ PRONTO EM 2015
Após a implosão da antiga Fonte Nova, os operários trabalham nos testes de carga e cravação das estacas para as fundações da nova arena que será erguida. No próximo mês, a construtora vai iniciar a instalação dos primeiros blocos de fundação e começará a montagem das estruturas de pilares e vigas. Valor do projeto: R$ 591 milhões.
São Paulo - Arena Itaquera NÃO FICARÁ PRONTO PARA A COPA SE SEGUIR O RITMO ATUAL
As obras para a construção do estádio em Itaquera ainda não saíram do papel. A arena, que será do Corinthians, foi escolhida para ser sede da Copa após o veto da Fifa para o Morumbi. A expectativa é que as obras iniciem até o fim de junho. O clube paulista tem problemas para adequar o orçamento aos pedidos feitos pela entidade máxima do futebol para o local receber a abertura do Mundial. Valor do projeto: R$ 335 milhões.
Fonte Nova está em processo de construção das fundações (Foto: Nilton Souza)
5 Razões Para o Atraso
A falta de planejamento é a principal, mas não é a única responsável pela lentidão nas obras da Copa de 2014
1 Escolha política das sedes
Para agraciar o maior número de compadres, o Comitê Organizador Local convenceu a Fifa a escolher doze cidades-sede para a Copa no Brasil, quando apenas oito seriam suficientes
2 Não há quem cobre
Não existe um único órgão com poderes para gerenciar, fiscalizar e cobrar a execução dos projetos da Copa, que estão a cargo de prefeituras, estados, autarquias e clubes. Na África do Sul, o governo central chamou a si essa responsabilidade. Arcou com 98% dos gastos e controlou todo o cronograma
3 Projetos malfeitos
Como a maior parte das obras que usam dinheiro público, as da Copa partiram de projetos mambembes que, como tais, exigem remendos depois. Em Brasília, por exemplo, o estádio não previa ítens básicos como gramado, traves e iluminação - tudo isso ainda terá de ser incluído, o que aumentará custos e potencializará atrasos
4 O dinheiro não aparece
Apenas 2,5% dos 23,7 bilhões de reais previstos para ser investidos nas obras de infraestrutura da Copa foram gastos até agora. No caso dos estádios, o BNDES diz que segura o dinheiro porque os responsáveis pelas obras não vêm cumprindo as condições contratuais. Como não há um órgão que centralize o gerenciamento dessas obras, tudo gira em círculo - a nada anda para a frente
5 Estão fazendo corpo mole
Muitos gestores de obras sabem que, como a Copa será prioridade do Brasil em 2014, às vésperas do evento o governo despejará dinheiro nos projetos que ainda estiverem inconclusos. E sabem também que investimentos "emergenciais" saem bem mais caro para os cofres públicos. No Pan-Americano de 2007, no Rio, o conjunto de obras finalizadas em cima da hora, custou 4 bilhões de reais - dez vezes a previsão inicial